19 maio 2008

Enquanto isso, você

Você mal consegue assimilar o que está havendo. Seca as mãos na toalha não trocada há doze dias e se olha no espelho. De súbito - e de certa forma permanente - , o rosto dela surge em seu pensamento e você começa a perder a força nas próprias pernas. Sua respiração torna-se ofegante e você percebe que perdeu a chance de não estar assim; deixou-se envolver nesse excitante desconhecido e agora não consegue mais conceber a idéia de passar um dia sem vê-la. Nesse jogo de aperto na garganta e espera pelo que não sabe que vem, você ouve a voz dela pela primeira vez, enquanto delira em lúcido despertar com a sensação maravilhosa de afundar os dedos de sua mãos nos cabelos incrivelmente encaracolados que ela tem. Você quase pode aspirar de relance o cheiro de cerejas frescas que eles provocam em suas narinas e no entanto, você jamais trocou uma palavra com ela, muito menos imagina com qual nome fora batizada.
Você acaba por deixar que o pensamento no rosto delicado e provocante que ela tem torne-se idéia fixa e nada desagradável. Poderia mirá-la pelo tempo que não saberia contar e sabe que precisará encará-la como nunca o fizera com ninguém.
Você mal pode esperar para passar horas relembrando das primeiras coisas que vocês dirão uma à outra. Pensando nessa possibilidade, você gira a maçaneta enferrujada e decide apanhar o jornal no tapete da porta.

2 comentários:

munny disse...

O que me irrita em ti é exatamente esse ter que ler duas, três vezes tudo o que você escreve, por que não tem como absorvar tanta coisa boa numa leitura só.

Mana: melhor que nunca :)


PS.: o post de baixo é igualmente magnífico.

munny disse...

*absorver, óbvio :P