29 junho 2008

Você e só

Abstrato e sorrateiro, você sofre. Nunca dante atravessado caminho mais longo do que aquele que o leva a si próprio. Não era mais o mundano e o óbvio que o cercavam de um mim cada vez mais distante. Na companhia somente e unicamente de seus pesares, você se vê por fora e envolvido em uma dura capa de cristal; quebrado, trincado, como você já não nega mais o ser também. Seu sexo se desfez e você definitivamente perdeu o rumo de uma cama acalorada balançando-se em uma tentativa irrisória de intimidade consigo mesmo. Você se desligou de sua lúcida resposta a pensamentos corrosivos e diluentes. Não veste-se mais para ninguém. Você já não se importa em cariar os dentes ou cortar os cabelos. Na vida, há momentos em que é preciso parar, mas você não sabe ainda disso, talvez demore para chegar lá. Você sempre quer chegar lá. Ainda não sabe que uma hora é preciso parar. Quem sabe quem pode levar-te em união eterna para qualquer lugar? Você cansa. Só de pensar.

18 junho 2008

Um homem com uma dor



"um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante."



Leminski

06 junho 2008

[pausa]

Sério mesmo, é ouvindo música instrumental que surgem os melhores pensamentos. Ou os pseudo-ones. Hoje acordei com vontade de misturar inglês nas minhas frases.
Anyway, escutando um jazz muito do bom é que parei pra analisar o amor. O que seria dele sem as canções de? Não, não se preocupe, o que está tocando por aqui não tem nada a ver com isso. Prolifera os neurônios, that's all. Bueno, como eu ia dizendo (sem muita esperança de levar muita coisa adiante), o amor vive da repetição do mesmo, da vivência dele em palavras, poesias, músicas, sentidos aguçados (palpitação instantânea, nervosismos, arrepios, gaguejos e afins) e da noção de estar sentindo-o. Uma pessoa torna-se tão bela quando é a pessoa que amamos. As canções do Los Hermanos multiplicam em milhões de dólares o seu valor significativo e, não venha me dizer que você já não afirmou com veemência: "meu deus, eles escreveram isso pensando em mim, tenho certeza!". E por aí vai.
Não estou de maneira nenhuma colocando o amor no lugar de sentimento inventado. Se bem que é, em tese. Deixe-me concluir. Em um momento ama-se, em outro, desama-se. É como deixar de mamar no peito da mãe. Amar nos traz um pouco a experiência apegada a certos estilos de vida que, noooormalmente, não está no cardápio, como dependência e tudo o que vem depois dela. We know.
Isso tudo é somente uma pausa. Um manifesto (não, não existem assinaturas) de um pensamento que, desmentindo o que eu disse no início, surgiu enquanto eu tomava um bom banho quente. Não que agora eu me sinta sem valor moral ou qualquer coisa que o valha. Pelo contrário: ou você não ficou morrendo de vontade de pôr em prática o aguçado sentido da audição naquele som maravilhoso onde ninguém precisa lhe dizer que o amor estava lá mas eu não vi, hã?