26 fevereiro 2008

Saindo do forno!

!

Alegria ímpar. Cintilante.
O conto "Avenida em russo" escrito por mim, foi aprovado para ser publicado na obra "104 que contam", com coordenação de Charles Kiefer.
*
Em princípio, o lançamento será no dia 04 de abril de 2008.
Quem ficou curioso para lê-lo, em breve divulgo o convite para o lançamento da obra. ( he he he )

;)
na corda
acorda
bamba



nacordabambadesombrinha

nacorda bamba

não existe ponto

final
[ ]

20 fevereiro 2008

Aquele lá / Aquela lá

Saiu de casa na terça feira, para vê-lo. Decidiu que não ia mais absorver toda aquela informação mal contida no poros da pele, e ia despejar tudo em cima dele. Usou a blusa branca com detalhe de flor no ombro esquerdo - mas ainda dava pra notar o roxo deixado pelo tombo na escada, ontem à noite. Foi abrindo a porta conferindo a bolsa a alça do sutiã no lugar os sapatos com as pontas descascadas o brinco numa orelha só e os cartões. Guardou o endereço escrito às pressas num pedaço de papel deveras usado, que ficava em cima da mesinha do telefone. Sem fio. Nunca entendera porque o telefone sem fio era membro permanente de uma mesinha no canto do corredor. Tinha pressa. Girou a maçaneta, o porteiro logo deu bom dia e ela pensou bom dia só se for pra você seu tarado filhodaputa pensa que não te vi olhando pra minha bunda quando caí dessa escada e você nem pra vir me trazer um alento uma palavra do tipo se machucou senhora, não, nada, só olhava e abria de canto a boca como que fosse babar em cima da droga da minha bunda batida. Entrou no táxi, Av São Clemente número 602 por favor o mais rápido que o senhor puder, porque a gente já perde tudo nessa vida pra perder também tempo né meu senhor, o senhor entende, quê, ah sim, é lá mesmo, o senhor já levou muita gente nesse lugar então, pois é vai ser a primeira vez que ponho os pés lá, sabe como é né, nervosismo instantâneo que vai tomando conta do corpo da gente, enquanto que aquele lá, ah, aquele lá não deve nem saber o que é ficar nervoso, descarado, filho-da-mãe-imbecil, bem que a minha amiga sempre me falava, olha esse aí não me parece boa pinta nem por dentro, toma cuidado que desse tipo eu já expert. e eu nem dei bola até briguei com ela umas 6 vezes por falar mal dele pra mim e eu boba toda erradona que ficava por estar com ele, nao me convencia e agora que a gente tá se reaproximando, que, não, não eu e ele, eu e ela, sim minha amiga, a gente tá se reaproximando graças-a-deus o senhor não sabe como é ruim perder tudo nessa vida, ontem mesmo caí ao subir um degrau e me machuquei bem aqui ó, consegue ver pelo retrovisor, aqui no ombro, uma mancha horrível que ficou, toda roxa, dizem que depois fica verde, não sei qual é pior, tomara que fique só roxa e no máximo escureça pra eu tentar fingir que é uma mancha de pele mesmo, não aguento ficar dando tanta explicação assim do porque-você-tá-com-essa-cara-de-morte-Silvia, porque-você-e-seu-marido-nunca-mais-apareceram-aqui-em-casa-pra-beber-uns-drinks-conosco-hein, ah aquela vadia, ainda por cima tinha coragem de me perguntar uma coisa dessas, como se eu não percebesse as jogadas de cabelo que ela dava pra cima do Raul, sempre que ele sentava no canto do sofá que ela sentava pra fumar aquele cigarro com cheiro de cravo ou sei lá o que é aquilo, mas atirada que só vendo, o senhor nem imagina o que eu tive que passar e aguentar no seco porque nem sou de beber sabe, um golinho aqui e ali de vez em quando mas nada que me faça tropeçar nos calcanhares quando voltar pra casa, e isso me faz lembrar dele de novo, aquele cretino sem vergonha que chegava se contorcendo em casa todo fedendo à bebida barata e perfume de mulher de esquina daquelas que na primeira volta da bolsinha já tem um zilhão de homens gordos suados que acabaram de comer um boi e agora vão comer a vaca também. caramba eu não imaginava que era tão longe assim, o senhor veja bem, eu lhe disse que é minha primeira vez, lá, não é, então queria causar uma boa impressão, se bem que não sei direito como funcionam essas coisas, acho que a gente abre a boca e fala fala fala o que vem na cabeça tudo de uma vez né, ah o senhor nunca fez isso antes, entendo. é, vou ver o que ele vai me dizer, o senhor por favor apresse um pouco a nossa corrida, é que.

16 fevereiro 2008

e o vazio corrói até
onde eu pensava ser feito de ferro e esperança. falta encontrar a dose certa.
perdi o andar da carruagem e minhas anotações com a fórmula pra me tirar daqui
molharam em uma antiga tentativa de enxaguar as sofridas gotas de
sal.

13 fevereiro 2008

Frágil

"você tem tanta vontade de chorar,
tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar."


Caio F.

08 fevereiro 2008

Contexto

quebra-se o espelho daquilo que um dia fugiu de si quando mais precisava ceder ao lento compasso do barulho das cordas vocais alheias de um grito que ecoa ainda em meus ouvidos falhados dormentes caídos na terra sugando o paladar do cheiro de máquina que exala nas correntes de água que fascinam poleiros imundos jogados no cálice na torre do cara de branco azulado sentindo ternura e malícia por toda a jogada que enreda minh'alma e coordena meu corpo de tantos lugares virando noitadas em mal construídos botes selvagens sofridos calados em chamas de bolhas perdidas no espaço sem ter compaixão fez tudo sereno batido na palma da mais versátil das mãos.

04 fevereiro 2008

Soraia

Chama-se Soraia e não tem apego pelo nome. Cultiva uma personalidade volátil com alguns traços de quadradisse plena. Alguns diriam que é difícil catalogá-la no livro "como definir uma pessoa, parte I", porém, outros já a decifraram de cor e salteado. Não é lá muito difícil.
Toda terça feira acorda relativamente tarde e vai jogar na Mega Sena. Sustenta inevitavelmente uma conturbada esperança de vida fácil e de amor livre. Todavia, despenca diversas vezes dos andares mais altos que seu ego consegue alcançar, mas segue com o pó compacto na bolsa para retocar os devidos danos à maquiagem.
Suspira alto ao lado do namorado para demonstrar insatisfação e despeito. Mesmo nada tendo acontecido, sempre algo aconteceu para ela. Ameniza pequenas dores existenciais com sua irritante capacidade de tornar-se insuportável e intolerante, e sabe gabar-se muito bem disso.
Nas quintas feiras, desce os quatro infinitos andares do prédio e compra pão e refrigerante. E cigarros. Não sabe conviver em sociedade sem um maço de cigarros e um copo de bebida na mão esquerda - só consegue fumar com a direita.
Alcança os níveis mais altos de agudisse vocal quando a contrariam, e isso, também faz parte de seus traços pessoais mais marcantes. Pode-se dizer que ela faz questão de deixar rastros por onde passa. Gosta da vida boêmia como poucos, mas não pensa duas vezes quando o sofá azul da sala a convida para uma temporada de televisão e sedentarismo.
Dispensa educação e sutileza ao abrir a boca, seja para elogiar a sua melhor-amiga-que-acabou-de-comprar-aquele-vestido-vermelho-carmim-que-tanto-namorava, seja para despejar em miúdos uma incomodação "extremamente importante." Para ela, lógico.
Chama-se Soraia e poucos sabem disso. Instaurou a ditadura do apelido até a morte. É verdade que apenas uns três ou quatro conhecem-na tão bem quanto eu. Também é fato que ignora o y em seu nome e que decidiu que com i fica mais apresentável, chamá-la de Soraia. Então tá.