19 novembro 2008

Síndrome de Gregor Samsa

Você não precisa acordar metamorfoseado em um inseto gigante e repulsivo para se dar conta de que ainda não descobriu o porque de conseguir tornar-se volúvel e dezprezível aos olhos de quem o vê.

Ou viu.

15 novembro 2008

Finais

O barulho do tráfego às seis da tarde na Independência misturado com aqueles berros que ele despeja no meu ouvido, quase me faz dar a volta na contramão, subir o meio-fio e largar a direção do volante, atravessando o caminho de seja lá quem aparecer. Eu sei que vou acabar ouvindo um "vem pra cá que a gente conversa", mas daqui não sai mais conversa, mais nada. Mais nenhum eu, nenhum ele. Acabou no momento em que o início ficou para escanteio. É tão dilacerante te dizer isso assim, mas não consigo evitar chegar a essa infeliz conclusão. O que já dissemos um ao outro e o que ainda está por vir é dor e lamentos dos quais não quero ter de superar novamente. Sim, eu sei que já estou em processo póstumo e que superar será preciso. Um ano se passou desde que tudo ocorreu e cada vez que essa buzina ensurdece meu ouvido, tenho a sensação de ter entrado na máquina do tempo de alguém, alguma que deu certo, alguém um dia iria conseguir isso. Merda. Virei cobaia de mim mesma a esse ponto e agora só me resta ouvir que você me desculpa, mas que não podemos mais continuar juntos.

Constatado isso, eu entrego esse nosso jogo que não sai do lugar. Perdemos e não ganhamos nunca. Talvez naquela vez em que você me ouviu cantar na cozinha e ficou parado, com aqueles olhos apertados de quem recém acordou de um porre gigantesco. Aquilo foi lindo, sabe. Agora eu nem preciso mais disso. Não chegamos a caminhar no mesmo contínuo e nossas mãos por milhares de vezes não se entrelaçavam de uma forma sincera, quando andávamos por aí.

Sabe de uma coisa, na verdade você nunca soube, talvez suspeitasse, mas não podia ter certeza, eu nunca deixava você ter certeza de nada, pra poder ter a certeza de que você sempre me veria com aqueles olhos apertados de ressaca – Machado que me perdoe a pobre utilização dos olhos da Capitu – mas a verdade é que isso nunca aconteceu e que terminei tudo isso sem saber por quê, sem saber o que de nós havia em mim ou em você.




[escrito em 12 de agosto de 2008.]