21 maio 2009

(Quase amor)

Eu poderia ceder e te esperar todas as noites. Eu poderia dizer com menos palavras e mais presenças que te esperei por toda a noite. Meu amor, eu poderia amar-te e compreender-te à moda antiga, na sacada, enquanto servimos de banquete ao céu da madrugada. Eu poderia chorar os teus lamentos e varrer os meus lamentos pra debaixo dos teus momentos de não querer e, assim, sentir que sou em ti. Eu poderia descansar os meus cabelos molhados e a minha nuca cansada em teu peito, só pra ouvir o teu coração bater bater bater e acreditar, em profundo silêncio, que é por mim & a mim e dormir. De relance, eu poderia partir.
Mas já não cedo, não espero, não digo, não amo, não compreendo, não choro, não varro, não sinto, não descanso e não durmo. Parto.
Não tardo em deixar-me ir.



02 maio 2009

Noite in vitro

Pela janela, observo
O senhor e seus dois companheiros
De caminhada notívaga
Arrastada nos chinelos velhos.

Também é velho
Ele, em cujas mãos pesam
Sacolas cheias de
Sonhos empoeirados; enquanto

O cachorro de lá
Balança o rabo, feliz
Levado pela inércia de
Não saber para onde está indo.

Jaz a noite, enfim,
De calmo frescor e poucos ruídos
Que não os desses passos
Tão explícitos.