08 dezembro 2010

Poemas no ônibus

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Neste blog é possível conferir o meu poema "Da condição" e todos os outros que estarão na edição de 2011 dos Poemas no Ônibus e no Trem!
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29 novembro 2010

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Lanç(ar)-se.
Acordamos dias de incógnita absoluta, ou nos demos por conta de que assim sempre foi por aqui, esta grande fumaça semi-negra que paira em cima de um moldado ponto de interrogação, as angústias e desesperos ali, parindo, porta afora, em meio àqueles ambientes abarrotados de gentes janelas que continuam lacradas, deixando que se mova somente o baile folhoso das árvores na praça em frente.

24 novembro 2010

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Um templo
No tempo
Silêncio
No espaço
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09 novembro 2010

Plot

III

Nico e Boris casaram-se no outono. Dois anos depois, terminaram a relação. Boris manteve-se fiel ao gosto pelo sexo masculino, enquanto Nico aventurou-se – inebriado pela ávida juventude que ainda carregava – por diversos puteiros. Numa de suas andanças, conheceu Lígia, com quem casou e teve um filho, a quem curiosamente chamou de Boris. Este nasceu, cresceu e um dia conheceu um homem mais velho e apaixonou-se. Boris, o filho, não possuía a remota ideia de que este homem já dividira a cama com seu pai. Lígia tampouco desconfiava da armadilha que o destino pregara para seu filho, enquanto Nico e o velho Boris, tacitamente, compactuaram com a situação.
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25 setembro 2010

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“Dá-me a via do excesso. O estupor/ Amputado dos gestos, dá-me a eloqüência do nada/ Os ossos cintilando/ Na orvalhada friez do teu deserto, pois o poeta habita/ O campo das estalagens da loucura. É assim que a distância habita em certos pássaros/ Como o poeta habita nas ardências”.

Hilda Hilst

18 agosto 2010

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invado-lhe o quarto,
permaneço no instante:
você passa.

17 agosto 2010

Noite

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Ao lado, a senhora conta baixo suas penas e conselhos. No alto, lá fora, a lua nova acusa-lhe a própria face, que reflete sem pudor na janela em movimento.

11 julho 2010

Poema Homeopático Sinestésico

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o que fazer
[como fazer]
pensar
não sentir nada
mudar
sem se importar
que venha
[venham]
em múltiplos
nos lençóis
outros, insólitos
rasteiros
nos balcões
apoiados, em pé
a pé
te abraço
[o cheiro]
a distância
salta - grita - afunda
não importa

pensamentos
não existem
se os compartilhamos

[encerrou-se a permanência]

acordo
no gelo
o escuro
do quarto
a Luz
já faz manhã
nua
na saliva o conhaque alcatrão o desejo
meus ossos
tua mão
o peso

os passos a mais
o chão, mas que chão
encontro
não o mesmo
a pressa
há pressa nos cantos
imundos
da noite e o meu colo
teus cabelos
escutando as veias pulsarem o gozo
[respiro]
sinto e exalo a lembrança de minhas cobertas
os fios e o aroma
em casa
acaso
entregue
uma volta, a chave
não batem na porta
se não o coveiro
carrega meu corpo
já nu
embora

o asfalto quente e molhado
e teu semblante da sacada
o terceiro andar
avista
virando os olhos já baixos e a lágrima
escorrida
me levam
sou distância, passageira
as folhas que seguem
o bafo e o carburador
os vizinhos que não conheço
[nem os últimos]

a nossa história inventada
lida em meu nome
sou flor
espinhos
[o sangue azedo]
despetala-me
embaixo da cama cresci
a terra, a virgem e a balança
todas debaixo do mesmo sol
corre livre o centauro
peito aberto, flecha ao infinito
envenenam-me os atalhos mesquinhos

os lençóis de linhos
os nós
o teatro
entre eles e os meninos
oprimidos
Boalenses
dramaturgos expressores expressivos exprimidos
inventores malditos
desta busca-vida
engolidos
queimando sob o sol, o mesmo de antes
o vermelho na pele e o toque áspero
[constatação]

era toda a primavera no chão
as flores e o escorregão das senhoras
o ferro retorcido dos balanços
a falta de olho o nheco nheco
altura do voo
menino-impulsão
os pés descalços na areia os vermes
gatos e cães
miscelânea do bairro
do alto as janelas
translúcidas
travestidas de domingo
sentam-se todos à mesa
do corredor e o ouvido
tilintar dos talheres
o asco do frango
a cebola cozida
lembrança de mãe
[a melancolia]

navego
em web
em susto
me abrem
e pulam
são as janelas
windows
a palavra que não é daqui
estapafúrdia é a palavra
enfadonho
ensimesmar-se
em si
em cima
o mar

e se fosse
só bom?
num futuro
qualquer
talvez
não mais

é o vento que carrega consigo
a mocidade e a cor
[homeopatia sinestésica]
o barulho leva embora a nossa solidão
doses maiores de silêncio
minha velhice

atiro no escuro
[coração]
sou cara
sabida
entranhas
doadas em cheiro e cor
meu olhar
calado
nos dias que passam diferentes
amanhã
não teremos mais pressa
pelos cantos

olhe o céu
vibrando no ar
[esperança]
o perdão antecipado
carona pra casa, precipício
meus delírios escondidos
no eco
lá embaixo
alguém
inventou essa história
imensa
intensa
idade
na ida
de lá

[o retorno]
e os fogos
o calor
à lenha
o chiado
e os velhos se amam
na varanda e na cadeira
as violetas a enfeitar
o chão que já é de flor
em azulejos mascarados

felpudas mantas cobertas nas camas
onde se esconde a loucura de um homem
o encontro tão esperado
o antes
e o que está
por vir
residência do Louco
o desespero ao nosso grito
caluniado
por detrás das portas as transas
de cinco minutos
o beijo na testa
cada vez mais raro
afogaram-nos em tristezas coletivas
apreendidas nas vistas
[em frente]
a medida do punho fechado
e o coração insone
desregrado
cai em pálpebras
no dia seguinte

não vemos mais
uns aos outros
uns outros
de nós mesmos
avançaram no lugar
[reação]
inquietos olhares
outrora calaram nossas falsas inquietações
misturadas ao silêncio constrangedor
de não poder gritar
no escuro
as falas
pálidas
sorrateiras

[o reencontro]
à soleira
da porta
as despedidas
permanecem
entre o A e o Z
uma pessoa
disfarça-se ao espelho
insistente
em tornar a sua imagem
reflexo de si mesma
na maré cheia
aliada
à Lua que míngua
meus cabelos escassos
aguados de tinta
enosados
tentativa errônea
de passá-los
pelos dedos:

entre os nossos
nós
só encontramos
a nós
mesmos.



Poema de minha autoria, declamado no Sarau de Poesia da Palavraria, em 26/06/2010.








24 junho 2010

Sarau de Poesia

SÁBADO 26.06.2010 às 19H30:
SARAU POÉTICO
(Palavraria Livraria & Café)
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APAREÇA!

15 maio 2010

Na vida

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o errado coexiste no certo imperfeito.

03 maio 2010

Acordo

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De olhos fechados
uma insônia é produzida
em minha memória naufragada
de imagens distorcidas
e palavras bifurcadas
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01 abril 2010

Da entrega

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Naquela noite
meu suco de laranja
voltou a ser árvore.

27 março 2010

Da condição

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à soleira da porta

as despedidas
permanecem.

03 fevereiro 2010

Imensa.idade

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o que de tanto é
que em tanto
a mim
permanece
é que antes era
e o peso feito
balas no peito
e este não protegido
agora é nada
compartido, renovado
não há espera
é espaço aberto
folha branca
morada do perigo
[não há mais tempo
não peço ajuda
assumi a condenação
desta liberdade tardia]
na curva, um retorno
não sei
não fujo, nem posso
deixar de ser
tudo isso
em mim.

24 janeiro 2010

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"Não temos culpa. Tentei. Tentamos."



Caio Fernando Abreu

18 janeiro 2010

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Depois da dúvida, nenhum silêncio cala.

17 janeiro 2010

Inacabar-se


Quando as portas se abrem
e as brisas misturam-se ao frescor do dia
concentre-se no silêncio de cada momento
na virada de mesa que vem bagunçar as peças.
Este jogo foi feito para ser lembrado.
Não espere que o dia se vá; na curva do sol
há um horizonte de melodias latentes
a penetrar fundo na pele do caminhante
que, sozinho, recorda daquela vez em que partiu
deixando-se abismar
soltando as amarras e os calcanhares.
Raspando os pés na terra árida,
ele cumpre a sua jornada
extravasa a sua existência
e encontra o céu azul, o fundo do mar:

Ser
humano é contemplar.

15 janeiro 2010

Em cada janela

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pela janela
vejo os barcos
a navegar
e a me levar
consigo
em cada espiada
em cada janela
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07 janeiro 2010

Memórias



Que eu tenha a sorte de passar cada dia de 2010 como os 4 dias da virada do ano, desse jeito: em liberdade.