03 janeiro 2009

Porcelain

Teceria alguns comentários a respeito do que fica após a perda. Não somos únicos, nós, que julgamos não saber lidar com aquilo que restou. De fato, não nos imaginamos vivendo em boeiros fétidos trocando miúdos com um par de ratos logo ao lado. De restos vivem eles, os outros.
Assim jurou crer por anos. Mas os mesmos logo passaram e nem sempre os acompanhamos.

A esperança do bem-estar após um longo período de choro constituía, agora, o seu último sopro de manter-se em pé, um pouco torto, caminhando meio de lado, já diria Leminski, um homem que sofre sempre tem um quê de sofisticação. Não importam as intenções, os contudos e as vias expressas; um imaginário aberto à mutilação do mundo era o seu pior inimigo. E bem sabia que travaria uma luta a seguir.

Uma ou duas vezes pensara sobre o amor. E sobre a falta dele, debruçara-se nos lençóis vazios: duas pernas e apenas um coração. Anatomia falha. Sentia que a falta o completava, pois a perda o fizera menor, minúsculo, ridículo.

Precisava respirar. Há tempos não lembrava de soprar o próprio ar com veemência. Desde que partiu, tudo fora obsoleto, matéria escassa, coisa-alguma.

Na parede, fotografias e um calendário. Sempre soube que

2 comentários:

Ricardo disse...

Já escrevi algo parecido. Mas muito inferior, óbvio.

Anônimo disse...

o leminski tb dizia que um homem que sente uma dor anda meio torto, de lado. sempre que caminho no parcão fico reparando nos caras e suas dores. é de se imaginar suas histórias.