12 setembro 2009

Espaços

"isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
"
leminski


Me despeço de uma parte de mim. É tanto choro que cai do céu que é impossível apenas abster-se e seguir. Com os pés molhados, o corpo resfria a alma e arrepia. Confesso que não sei mais viver da mesma forma, aquele jeito rotulado, marca grande, explícita. Sou interior, sopro no peito, estalo dos dedos pra produzir qualquer som que saia de mim. Acordo cedo só pra ouvir os últimos momentos de solidão, e ali me instalo. Levo tudo: cigarros, chás, folhas de caderno e alguma dose de loucura. Talvez fosse diferente antes de olhar pra dentro, antes de saber que nem tudo é tão fácil de sentir e de compartilhar. Eu não era assim tão calada, sem uma imagem própria que se abate na luz do espelho. Aqui dentro ainda vive alguém que não entende o por quê. Continuo na fase inicial, aquela que não atravessa de sopetão qualquer caminho. Preferiria que meus cigarros durassem um pouco mais, que eu baforasse então, em fumaça opaca, a minha própria trajetória de vida.

Vou me servir de doses maiores, talvez duas já me ajudariam a entender tudo melhor.

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