02 abril 2008

Quando o Novo Cruza os Braços

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Sempre achara vazio pensar como se fosse outro alguém. Um a mais, não a menos. Mas de soma duvidosa, sem forma nem cor. E das cores, precisava muitíssimo. Cada qual preenchendo suas lacunas adversas e confusas, de outrora.
Servira chá. Adicionara uma colher de açúcar, falta ele. Falta. Espaços. Muito ar pra respirar e pouco pulmão para fazê-lo. Já não mais sabia de metade das coisas que aprendera, como é fácil deixar-se perder para o inesperado, pensara. Aflita e só. Muitos deles; rodas vivas. Falta.
Hesitara uma, duas. Três vezes e já perdera o rumo. Da mão direita, deixara cair um pedaço de papel rabiscado: onde estivera, guia escasso.
Aguardam-na na sala de estar. Nunca estivera tão fora de casa como desta vez. Na ausência de palavras, encontra Clarice. Deixara por sua conta todo o resto...

"(...) A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.
(...)"
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Algo mais escapara. Terá ela astúcia de perceber para onde deve seguir? "Tanto faz", respondera.
Então o
fizera.
"Lucy ya no duerme en casa...dónde está?"
Fito lo disse.

4 comentários:

Unknown disse...

Uma taça de loucura?

alice disse...

ai, que delícia esse post!

munny disse...

moooooooooh :O

i diçea ssin, mana;: t curto d+++!111one!

Anônimo disse...

Clarice sempre tem as palavras certas.

Coincidência ou não, neste momento estou ouvindo Fito!

Beijos!