14 março 2008

Dr. Fantástico ou Como aprender a amar os gritos entusiasmados das crianças nos parques

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Cantemos Erasmo no início: "Eu preciso de ajuda. Por favor me acuda. Eu vivo muito só. Eu me sinto muito só. Mas se acaso numa curva, eu me lmbro do meu rumo, eu piso mais fundo, corrijo num segundo. Não posso parar."
E pra mim é assim que inicia o fabuloso ("essa é a palavra") monólogo Parque de Diversões, que fui assitir ontem, no espaço Ox do Ocidente, aqui em Porto Alegre.
Pra falar bem do que foi visto - e, principalmente, ouvido (não precisamos ver, de verdade) - é necessário fazer algumas ressalvas. Prepare-se pra adentrar em um ambiente fatidicamente sinistro, onde camas, cinzeiros e livros são propositalmente jogados para a frente. As cinzas caem no chão, quase que sujando as delicadas meias pretas do rancoroso personagem.
Um asqueroso ruído de uma roda gigante aparentemente abandonada e muito antiga é proposto e enfiado tímpanos adentro. Nada que uma projeção de pontinhos-brancoscoloridos-absurdos num telão não menos absurdo não amenize.
O problema é quando as rodas iluminadas giram ao teu redor e tu não tens pra onde fugir. É preciso ouvir até o fim. O drama hilariante e trágico do cara que fala ao microfone é poesia mórbida, feita no melhor estilo improvisado de uma voz distorcida e amendrontadora de um ser que não dorme há 34 dias.
Ainda assim, o silêncio vale ouro.
Interagindo contigo o tempo todo, é traçado um objetivo desvirtuado de uma insana (e insone) vida nada pacata. O foco escuso e sombrio das palavras encenadas - ou não, perde-se a noção da meia realidade enquanto se está ali - te remete a uma ânsia vazia de desespero surdo. Espere pela morte que não vem. "Como é o fim? Não tem".
A inércia descabida espelhada em um outro-eu é um complicador alucinante. E não há meios de escapar dessa conclusão. O que se vê é a perda gradual do espelho da própria face, oculta em um discurso psicosimpático (definido por ele mesmo, certa vez) sem fim.
Vaza um dilema corrosivo. O louco entra em cena. Um delírio perfeito da mente deturbada de quem não lê mais o jornal que chega todo o dia é anunciado. E para que, mesmo? Pois "a sorte não vem nos jornais". Tá certo. Rá! Delicie-se com um final visualmente melancólico, onde as expressões modificam o que até então, parecia imutável. E saia com a sensação e a angústia barata de pensar em lojas-de-doces-abertas-aos-sábados.
Repito: fabuloso. E não o destino de. Pois esse já fora perdido desde a primeira baforada no cigarro mau fumado.

Um comentário:

Anônimo disse...

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