28 junho 2007

Ouça

faça-me um favor
não suba no sofá
os pés, tampouco os largue sobre a mesa de centro.

não grite. não responda-me alto
não pense que vá mudar a disposição da casa
sente na cadeira que lhe oferecer
não suje meus estofados

bata as cinzas e nao me amole com aquelas que caem pra fora do cinzeiro
levite pela cozinha, saiba respeitar as plantas sob o murinho
não coma meus doces
não seja azedo
chupe o dedo se encher o saco
mas não esqueça do lixo seco.

não me aborreça com possíveis dúvidas existenciais
saiba que já as carrego em demasia, em cada fio de cabelo
não espalhe seus pertences para que eu os conheça
me surpreenda ao primeiro olhar, na porta
largue o guarda-chuva e peça um café

não reclame. por certo, é amargo.

Quando é pra ser já não cola

se coubesse em todo o espaço
aquilo tudo que eu poderia dizer, e mostrar,
talvez apertasse letraporletra, cortasse vírgulas escrito tudo numa linha sem fim e sem cortes e sem...
talvez começo a aprender que tem coisa que não sai
mas que ficar, não pode.
se as medidas são desconexas, falta onde gritar
precisaria bem mais que isso...

quando se está longe do bom
qualquer coisa mínima pode te glorificar
e depois quando o chapéu cai na cabeça
e uma grande estúpida vontade de mudar,

me corto em dois e
percebo que não faz sentindo. continuar.
mas que força faz um despertar?
em quem já tão logo se desarrumou pra sair?

22 junho 2007

Siga: fuga

saí por aí.

nem adianta perguntar,

que eu não sei por onde fui...

15 junho 2007

É do Ser e Não é. Né?

*.*.*
enquanto espero o que é sem
escuto baixo vibrar lá dentro
é bicho que corre solto
e coisa que não se contém.
atiro pro alto meu último véu
nesse não sentir suave, calei
na revolta de aceitar o que nem sei que vem.

13 junho 2007

pinga céu




na rua onde sempre está
chovendo

caem pingos nos cabelos
daqueles

que passam pelas árvores,

as que choram
sempre um pouco mais
do que as nuvens
mandaram.

11 junho 2007

O inferno tão temido - Juan Carlo Onetti

(...)


"Na terceira fotografia ela estava sozinha, empurrando com sua brancura as sombras de um quarto mal iluminado, com a cabeça dolorosamente jogada para trás, para a câmera, os ombros meio cobertos pelos negros cabelos soltos, robusta e quadrúpede. Tão inconfundível agora como se tivesse se deixado fotografar em qualquer estúdio e tivesse posado com o mais terno, significativo e oblíquo de seus sorrisos.

Agora Risso só sentia uma pena irremediável dela, dele, de todos os amantes que já haviam amado no mundo, da verdade e do erro de suas crenças, do simples absurdo do amor e do complexo absurdo do amor criado pelos homens."

05 junho 2007

E a vontade é rebelde...

teria vontade de escrever muitas coisas. talvez tantas que nem desse pra pôr em uma ordem, digamos, lógica. sabia que inspiração há muito havia fugido e "nessas horas a gente espera", pensa. aliar-se ao tempo é tema de grandes debates de auto-ajuda por aí. é, boa escolha. ter consigo um aliado sempre é necessário, não se sabe quando a cabeça vai parar de funcionar e a batata vai ter que assar em outra cuca.
c'est la vie. hããã? mesmo? como é? pinto quadros pelo ar e vejo imagens se desfazendo em minha cabeça. realiza: tá tudo ali, a gente que se quer deixa ver. tira o tapa-olho, o tapa-sexo, e parta para o topa-tudo, seja dinheiro, seja um gole na esquina com aquelelá.
saberá se o tesão da hora era bom demais se não for lá e conferir? hummm. subejtivando vontades; vontades são rebeldes. queda dura e forma explícita: não há nada que não sucumba a uma vontade.
diga vontade com vontade e veja se não escorre uma babinha pelo canto.
que te dá vontade nessa hora?